quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Capadócia e o meu quarto.

Eu assisto muita novela
não termino os livros que começo
tenho pensado muito em viajar pra Capadócia desde que vi uma reportagem sobre ela no Globo Repórter
gasto dinheiro desenfreadamente
no último fim de semana adiquiri um acessório que,sinceramente,não sei como vou usar,mas achei tão bonito que não resisti em tê-lo comigo
tenho alunos
tenho orgulho de ter alunos
meus alunos dão trabalho
sou feliz tendo alunos
alunos não dão dinheiro
Minha faculdade foi uma vitória
a minha maior vitória
e deve ser por isso
e também porque sou preguiçosa
que eu teimo em adiar o seu fim.
As férias estão no fim
Hoje eu fiquei em casa
Queria tanto ter ido a Santa Teresa ao entardecer...
beber caipirinha e comer pastel de feijão
mas não tinha companhia
nem dinheiro
Reparem que a palavra dinheiro é constante
e que os Beatles estão em todos os lugares
Agora eu tenho um celular que toca música
Escolhi o Tears for Fears para tocar quando a minha mãe liga
me lembra de quando ela era nova
e dançava sowing the seeds of love na sala do nosso apartamento pequeno
Meu namorado me ama
eu amo o meu namorado
e confesso que não é fácil quando o problema não é o amor
é lógico que existem sentimentos perpétuos
que causam angustia as vezes
mas não chegam a ser um problema.
Será que um dia eu atravessarei o Atlântico sozinha?
Estou numa fase de poucos amigos.
Muitos foram embora.
Encomendei dois quadros para a parede rosa do meu quarto
um da maria antonieta e outro do encontros e desencontros
dormirei e acordarei com kirsten Dunst e Scarlet Johanson ao meu lado
será que elas iriam a Capadócia comigo?

E você,iria??

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O mundo encantado do freezer.

Quando eu era criança a minha mãe guardava as coisas gostosas que ela comprava no freezer e trancava com uma chave que tinha o chaveiro cor de rosa. A minha grande aventura dos finais de semana era esperar a minha mãe dar uma cochiladinha,pegar a tal chave na bolsa dela sem fazer barulho,abrir o freezer também sem fazer barulho,analisar o que tinha lá dentro e calcular o que eu poderia pegar sem que ela percebesse(na maioria das vezes eu pegava batatas Ruffles e chocolates),fechar e devolver as chaves.
Durante muitos e muitos anos foi assim. Depois ela passou a guardar as coisas gostosas no quarto dela e aí a minha aventura era descobrir aonde era o esconderijo secreto das guloseimas tão necessárias para a minha existência.
Depois eu comecei a andar sozinha e na volta do curso de inglês comprava eu mesma as minhas coisas gostosas,que costumavam ser balas de coco e biscoitos amanteigados de uma padaria próxima.
Houve vezes em que eu roubei latas de leite condensado da dispensa e escondi no meu armário. Quando a minha mãe descobria ela ligava pro meu pai e gritava.
Tudo porque eu não podia ser gorda, tudo porque a beleza está na magreza e gordos podem ser tudo,mas não são bonitos e, sendo assim, não são felizes.
Gordos são aquelas pessoas que são simpáticas e solicitas com os outros porque precisam compensar a gordura de alguma forma. Gordos são populares e engraçados porque precisam se fazer interessantes por tráz da gordura. Gordos não namoram, gordos são cheios de problema,são descompensados e comem para tentar satisfazer o que a vida os nega(por serem gordos).
A maior vitória de um gordo é deixar de sê-lo. Para isso ele precisa entender que pães,manteigas e chocolates não valem a pena, para isso ele precisa entender que Coca Zero vale mais a pena do que suco de laranja porque engorda menos e precisa fazer exercícios, e precisa saber dizer não as frituras nas mesas de bar com os amigos, e precisa se controlar.
Sim, eu cresci com essas exatas palavras no meu ouvido todos os dias. E acreditem, eu não era gorda. Sempre estive acima do peso, mas nada calamitoso. Minha mãe tinha tanto medo de que eu me tornasse uma enorme bolota que enchergava em mim antecipadamente uma aberração e falava isso no meu ouvido 24 h.
Quando eu tinha 15 anos gostava de um menino que morava aqui na frente. Um dia cheguei em casa suspirando porque tinha vindo andando com ele pela rua e perguntei,sozinha,numa daquelas indagações adolescentes: por que ele não quer nada comigo? E a minha mãe respondeu rápido: porque você é gorda.
Era assim,sempre assim. E acabou que eu me tornei complexada.
Mas o fato é que eu continuei comendo,só fiz regime de verdade uma vez e mesmo assim,quando já tinha emagrecido,voltei a comer.
E hoje...
Bem, hoje eu ainda tenho dificuldades em confessar que sou gorda, mas percebi que a felicidade não está atrelada a isso, não mesmo. Nós não nos adequamos ao padrões e isso é complicado. Não é fácil não entrar nas calças jeans das lojas comuns, nem ficar de biquini em Ipanema vendo um monte de outras moçoilas saradas se exibirem felizes. Mas felicidade não é isso. Felicidade é realização pessoal,é autoconfiança(auto ajuda braba aqui),é ter perspectiva. E isso,meus caros, não há regime que traga.
Enfim, eu vivo esse conflito enorme, quero emagrecer, mas não quero parar de comer,amo comer, não sou feia,não me sinto feia, mas poderia ser mais bonita e queria estar magra para a festa de formatura, mas hoje a noite eu vou sair com umas amigas e com certeza vou comer e é assim...
Ô vida!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A praia e a Revolução.

Então...Eu tenho pensado muito sobre o Rio de Janeiro. Vale a pena ser morador do Rio de Janeiro?
Eu estava vendo as fotos de uma paulista conhecida que veio,com a família, passar uma semana aqui no Rio. Nas fotos dela aparecia a praia, o bondinho, botecos de esquina em ruas bonitas...
E foi fácil perceber que esse Rio de Janeiro de chopinho depois do trabalho, de praia no fim de tarde, de Ipanema e Leblom, não é meu. Eu não pertenço a ele.
Aqui na Tijuca o que eu tenho é uma enorme variedade de meios de transporte que vão pro Centro e pra Zona Sul e só. O mundo é lá.
E se eu quiser voltar de madrugada o taxi se faz necessário. Sim, porque eu sempre voltava sozinha andando, até ser assaltada. Aí tudo mudou.
Ontem eu fui pra um barzinho no lugar mais movimentado da Tijuca com alguns amigos de Copacabana que só estavam aqui por causa de um show num teatro Tijucano. Lá pelas tantas apareceram alguns meninos de rua que ficaram rondando a nossa mesa. Nós, historiadores, estudantes, defensores de mudanças profundas na sociedade,com medo e, confesso envergonhada, com ogeriza daquelas pessoas, simples, iguais a gente na teoria, mas muito diferentes na prática.
Era por eles que nós deveríamos lutar. A minha obrigação era de conversar com eles, dar comida, dar amor, dar o que o estado negou.
Só que lá entre eles estava o menino, sem dente, mal vestido, muito magro, que me assaltou no ônibus com uma arma. Levou 40 reais e recusou o meu celular, que era barato.
Sim, estavamos lá o menino e eu e nada podia ser feito. Eu tenho vontade de socar a cara dele e quebrar mais um dente, não vou negar. Eu não sou hipócrita. Mas não posso, não posso porque tenho medo dele e não posso chamar a policia porque essa me parece pior do que ele.
E aí nós guardamos os celulares que estavam em cima da mesa, as câmeras digitais e as carteiras, pagamos a conta e fomos embora, de taxi. Fugindo dele e dos que são como ele(e se ele não tivesse me assaltado não seria diferente), esquecendo que tudo aquilo, bar, cerveja com os amigos, celulares com bluetooth(?) e todas essas frescuras fundamentais para a nossa existência foram negadas a ele, ou pelo menos não vieram com a mesma facilidade que pra nós.
Sim, eu trabalho, todo mundo que estava lá trabalha. Sim, eu ajudo os outros quando posso, eu me esforcei pra chegar aqui, meus pais também, o Daniel Dantas provavelmente também,mesmo sendo desonesto, mas não é difícil perceber que a realidade daquele menino que me apontou a arma, é uma e a minha é outra e que por estarmos no mesmo planeta o problema é enorme.
Enfim, o Rio de Janeiro...
O sol, a praia, o biquini e chinelinho, a vida despojada e feliz, o andar de bicicleta nas ciclovias...isso é para poucos. Para todos é a violência. Para todos é esse conflito sem solução, é o cimento e o trânsito. Eu me aproveito sim, de muitos dos serviços que a minha metrópole tão querida oferece, vou aos cinemas alternátivos, como bem, me acabo nas liquidações, mas não é o sificiente. Eu quero esse clima de verão o ano inteiro, quero atravessar a rua e ir a praia, estar sempre bronzeada, fazer tudo andando, da praia pro barzinho, do barzinho pro cinema, do cinema pra casa e depois pro barzinho de novo.
E olha que a Tijuca não é longe, e olha que na Praça Sães Peña tem tudo e que eu moro bem a beça,mas eu estou reclamando sim. É pobreza demais, riqueza demais e ganhar bem a ponto de ascender socialmente(não pra aparecer nas colunas sociais, só pra ir a praia com mais frequencia) está me parecendo complicado demais...
Eu não quero ser um personagem do Manoel Carlos,mas acho que se é pra morar aqui, se é pra pagar o preço, então a recompensa tem que ser boa.
Enfim...São intermináveis esse conflito, a contradição do meu discurso de esquerda, de defensora das cotas, do Pró-Uni,da inserção das polulações marginais,entre muitas outras das metas clichês dos movimentos sociais, a impossibilidade de mudar de verdade a sociedade e a minha vontade de me inserir no mundo colorido da praia (eu também queria a Europa,Nova York,o Marrocos,etc, mas por enquanto só tenho a região dos Lagos e graças a Deus por isso).
Pelo menos é produtiva a discussão.
E antes de me criticar e de me chamar de fútil e de dizer que eu tenho tudo e que estou reclamando de barriga cheia, pense direitinho, eu só estou sendo sincera. Se precisarem do meu apoio para fazer a Revolução(amo essa palavra) podem contar comigo, mas não digam que não querem ser enganados por Copacabana e que não gostam de praia. É pecado.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ninguém tira a Tijuca da menina.

Eu tenho andado muito irritada.
Fiquei doente na viagem que eu mais esperei o ano inteiro.
Planejei tudo e nem boas fotos eu consegui tirar.
não comi
não dei grandes risadas
nada
Voltei com uma enorme sensação de desperdício
Parece que é Deus me castigando
por não ter ido ao casamento da amiga mais antiga
por não ter deixado a minha mãe ir junto comigo...
E as amigas têm me irritado
e eu tenho falado pouco.
E estou doente ainda
e um menino morreu ontem a noite aqui na Tijuca
na rua da Danielle Inácia,
minha amiga da quinta série
que era gordinha e usava o cabelo todo preso pra um só lado da cabeça
depois ela emagreceu horrores e deu pra todo mundo.
Será que ela ainda mora lá?
É triste ver o seu bairro tão querido
onde você cresceu
onde você encontra os seus professores
de onde você sai e pra onde você volta todos os dias
aparecendo assim no Jornal
Tenho vontade de me mudar,
mas meu coração tijucano apegado,
tenho certeza,
vai sempre morar aqui.