quinta-feira, 17 de julho de 2008

A praia e a Revolução.

Então...Eu tenho pensado muito sobre o Rio de Janeiro. Vale a pena ser morador do Rio de Janeiro?
Eu estava vendo as fotos de uma paulista conhecida que veio,com a família, passar uma semana aqui no Rio. Nas fotos dela aparecia a praia, o bondinho, botecos de esquina em ruas bonitas...
E foi fácil perceber que esse Rio de Janeiro de chopinho depois do trabalho, de praia no fim de tarde, de Ipanema e Leblom, não é meu. Eu não pertenço a ele.
Aqui na Tijuca o que eu tenho é uma enorme variedade de meios de transporte que vão pro Centro e pra Zona Sul e só. O mundo é lá.
E se eu quiser voltar de madrugada o taxi se faz necessário. Sim, porque eu sempre voltava sozinha andando, até ser assaltada. Aí tudo mudou.
Ontem eu fui pra um barzinho no lugar mais movimentado da Tijuca com alguns amigos de Copacabana que só estavam aqui por causa de um show num teatro Tijucano. Lá pelas tantas apareceram alguns meninos de rua que ficaram rondando a nossa mesa. Nós, historiadores, estudantes, defensores de mudanças profundas na sociedade,com medo e, confesso envergonhada, com ogeriza daquelas pessoas, simples, iguais a gente na teoria, mas muito diferentes na prática.
Era por eles que nós deveríamos lutar. A minha obrigação era de conversar com eles, dar comida, dar amor, dar o que o estado negou.
Só que lá entre eles estava o menino, sem dente, mal vestido, muito magro, que me assaltou no ônibus com uma arma. Levou 40 reais e recusou o meu celular, que era barato.
Sim, estavamos lá o menino e eu e nada podia ser feito. Eu tenho vontade de socar a cara dele e quebrar mais um dente, não vou negar. Eu não sou hipócrita. Mas não posso, não posso porque tenho medo dele e não posso chamar a policia porque essa me parece pior do que ele.
E aí nós guardamos os celulares que estavam em cima da mesa, as câmeras digitais e as carteiras, pagamos a conta e fomos embora, de taxi. Fugindo dele e dos que são como ele(e se ele não tivesse me assaltado não seria diferente), esquecendo que tudo aquilo, bar, cerveja com os amigos, celulares com bluetooth(?) e todas essas frescuras fundamentais para a nossa existência foram negadas a ele, ou pelo menos não vieram com a mesma facilidade que pra nós.
Sim, eu trabalho, todo mundo que estava lá trabalha. Sim, eu ajudo os outros quando posso, eu me esforcei pra chegar aqui, meus pais também, o Daniel Dantas provavelmente também,mesmo sendo desonesto, mas não é difícil perceber que a realidade daquele menino que me apontou a arma, é uma e a minha é outra e que por estarmos no mesmo planeta o problema é enorme.
Enfim, o Rio de Janeiro...
O sol, a praia, o biquini e chinelinho, a vida despojada e feliz, o andar de bicicleta nas ciclovias...isso é para poucos. Para todos é a violência. Para todos é esse conflito sem solução, é o cimento e o trânsito. Eu me aproveito sim, de muitos dos serviços que a minha metrópole tão querida oferece, vou aos cinemas alternátivos, como bem, me acabo nas liquidações, mas não é o sificiente. Eu quero esse clima de verão o ano inteiro, quero atravessar a rua e ir a praia, estar sempre bronzeada, fazer tudo andando, da praia pro barzinho, do barzinho pro cinema, do cinema pra casa e depois pro barzinho de novo.
E olha que a Tijuca não é longe, e olha que na Praça Sães Peña tem tudo e que eu moro bem a beça,mas eu estou reclamando sim. É pobreza demais, riqueza demais e ganhar bem a ponto de ascender socialmente(não pra aparecer nas colunas sociais, só pra ir a praia com mais frequencia) está me parecendo complicado demais...
Eu não quero ser um personagem do Manoel Carlos,mas acho que se é pra morar aqui, se é pra pagar o preço, então a recompensa tem que ser boa.
Enfim...São intermináveis esse conflito, a contradição do meu discurso de esquerda, de defensora das cotas, do Pró-Uni,da inserção das polulações marginais,entre muitas outras das metas clichês dos movimentos sociais, a impossibilidade de mudar de verdade a sociedade e a minha vontade de me inserir no mundo colorido da praia (eu também queria a Europa,Nova York,o Marrocos,etc, mas por enquanto só tenho a região dos Lagos e graças a Deus por isso).
Pelo menos é produtiva a discussão.
E antes de me criticar e de me chamar de fútil e de dizer que eu tenho tudo e que estou reclamando de barriga cheia, pense direitinho, eu só estou sendo sincera. Se precisarem do meu apoio para fazer a Revolução(amo essa palavra) podem contar comigo, mas não digam que não querem ser enganados por Copacabana e que não gostam de praia. É pecado.

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