sexta-feira, 25 de julho de 2008

O mundo encantado do freezer.

Quando eu era criança a minha mãe guardava as coisas gostosas que ela comprava no freezer e trancava com uma chave que tinha o chaveiro cor de rosa. A minha grande aventura dos finais de semana era esperar a minha mãe dar uma cochiladinha,pegar a tal chave na bolsa dela sem fazer barulho,abrir o freezer também sem fazer barulho,analisar o que tinha lá dentro e calcular o que eu poderia pegar sem que ela percebesse(na maioria das vezes eu pegava batatas Ruffles e chocolates),fechar e devolver as chaves.
Durante muitos e muitos anos foi assim. Depois ela passou a guardar as coisas gostosas no quarto dela e aí a minha aventura era descobrir aonde era o esconderijo secreto das guloseimas tão necessárias para a minha existência.
Depois eu comecei a andar sozinha e na volta do curso de inglês comprava eu mesma as minhas coisas gostosas,que costumavam ser balas de coco e biscoitos amanteigados de uma padaria próxima.
Houve vezes em que eu roubei latas de leite condensado da dispensa e escondi no meu armário. Quando a minha mãe descobria ela ligava pro meu pai e gritava.
Tudo porque eu não podia ser gorda, tudo porque a beleza está na magreza e gordos podem ser tudo,mas não são bonitos e, sendo assim, não são felizes.
Gordos são aquelas pessoas que são simpáticas e solicitas com os outros porque precisam compensar a gordura de alguma forma. Gordos são populares e engraçados porque precisam se fazer interessantes por tráz da gordura. Gordos não namoram, gordos são cheios de problema,são descompensados e comem para tentar satisfazer o que a vida os nega(por serem gordos).
A maior vitória de um gordo é deixar de sê-lo. Para isso ele precisa entender que pães,manteigas e chocolates não valem a pena, para isso ele precisa entender que Coca Zero vale mais a pena do que suco de laranja porque engorda menos e precisa fazer exercícios, e precisa saber dizer não as frituras nas mesas de bar com os amigos, e precisa se controlar.
Sim, eu cresci com essas exatas palavras no meu ouvido todos os dias. E acreditem, eu não era gorda. Sempre estive acima do peso, mas nada calamitoso. Minha mãe tinha tanto medo de que eu me tornasse uma enorme bolota que enchergava em mim antecipadamente uma aberração e falava isso no meu ouvido 24 h.
Quando eu tinha 15 anos gostava de um menino que morava aqui na frente. Um dia cheguei em casa suspirando porque tinha vindo andando com ele pela rua e perguntei,sozinha,numa daquelas indagações adolescentes: por que ele não quer nada comigo? E a minha mãe respondeu rápido: porque você é gorda.
Era assim,sempre assim. E acabou que eu me tornei complexada.
Mas o fato é que eu continuei comendo,só fiz regime de verdade uma vez e mesmo assim,quando já tinha emagrecido,voltei a comer.
E hoje...
Bem, hoje eu ainda tenho dificuldades em confessar que sou gorda, mas percebi que a felicidade não está atrelada a isso, não mesmo. Nós não nos adequamos ao padrões e isso é complicado. Não é fácil não entrar nas calças jeans das lojas comuns, nem ficar de biquini em Ipanema vendo um monte de outras moçoilas saradas se exibirem felizes. Mas felicidade não é isso. Felicidade é realização pessoal,é autoconfiança(auto ajuda braba aqui),é ter perspectiva. E isso,meus caros, não há regime que traga.
Enfim, eu vivo esse conflito enorme, quero emagrecer, mas não quero parar de comer,amo comer, não sou feia,não me sinto feia, mas poderia ser mais bonita e queria estar magra para a festa de formatura, mas hoje a noite eu vou sair com umas amigas e com certeza vou comer e é assim...
Ô vida!

4 comentários:

Tatiana disse...

nossa, q terrorismo sua mae fazia!!
bom, vou ter q discordar de vc em 1 ponto: ser magra ñ é apenas seguir o modelo de beleza q a sociedade nos impoe, é tb adotar habitos saudaveis p/ evitar problemas de saude mais cedo ou mais tarde. isso sigifica levar 1 vida equilibrada conjugando exercicios fisicos c/ alimentaçao balanceada. mas ninguem precisa virar xiita e renunciar aos prazeres da gula, é so ñ sucumbir a ela tds os dias e exageradamente!! afinal, ninguem precisa virar 1 gisele bundchen!!!
ciça, vc ñ é gorda, continue se exercitando e podera comer a vontade qdo sair c/ os amigos!
bjs!

Pammy Motta disse...

Oi
desculpa pela invasão mais vi seu blog no reino e vim te conhecer,
Eu sempre fui muito magra a vida toda, pesava no máximo 52k, e isso não me deixava feliz, desfilar porque a minha mãe fazia questão, não me deixava nada feliz eu amo comer e odiava fazer dieta, hj eu sempre estou olhando para trás, eu poderia ter sido mais feliz, depois de dois filhos aos 24 anos eu não consigo me olhar no espelho direito, já fiz terapia e blçábla, nada muda a falta de auto-estima que sinto, e acho que sempre dá para melhorar, vi sua foto pequena no perfil e vc não é gorda, vc é muito bonita, e comer é tudo de bom.
Venha me visitar
um bj

Danielle disse...

Oi Ciça,
Também sou freqüentadora do "Reino", vi teu comentário sobre a manicure e vim ver de onde eras. Sou de Porto Alegre, e aqui eu pago de 8 a 10 reais por uma manicure, e vivo trocando, fazendo com manicures diferentes; assim, eu não tenho 1 manicure, mas sim 1 ou 2 com quem eu NÃO faço mais, pq me machucaram, ou são muito lerdas ou desleixadas. Vc paga caro! Tem que exigir um serviço bem feito!
Mas quero te dizer que me identifiquei muito com a tua relação com o peso, pois sempre lutei com o meu. Aos 5 anos eu já era gordinha, aos 10 era um balão. Minha mãe começou a me levar a nutricionista, endocrinologista... Mas os hábitos alimentares em casa nunca ajudaram muito. Na adolescência, "espichei" e melhorei. Aos 14, pesava 72kg. Sempre de dieta e me exercitando, dos 15 aos 27, meu peso oscilou entre 63-68kg (tenho 1,66m), e meu corpo ficou bem harmônico, bem acinturada, sem barriga, mas quadril largo e coxas grossas; mas eu continuei pra sempre me vendo como "enoooorme" de gorda. Dps dos 27, saí de casa, mudei de cidade, e fui engordando. Cheguei aos 88kg em 2002, dps, com muita dieta e exercício voltei aos 70kg,78,68,78,... e hoje estou literalmente suando (na academia) pra me manter abaixo dos 75kg; voltei a ser acinturada e "quase" sem barriga, e gosto mais do meu corpo hj do que 10 anos atrás, qdo tinha 65kg e, hj vejo, NÃO era gorda. Já aprendi que nunca vai haver uma dieta milagrosa que me deixe "magra", e provavelmente que eu nunca vou me ver como "magra", mesmo que fique. Na minha cabeça, eu sempre fui e sempre vou ser "gorda". E eu adoro comer, e odeio fazer exercícios. Mas, pelo bem da minha saúde física e mental, estou tentando encontrar um ponto de equilíbrio. Meu maior medo, sabe qual é? É ter uma filha e não conseguir evitar que ela seja gorda e sofra tudo o que eu sofri com isso toda a minha vida. E o que fazer? Ser terrorista como sua mãe? Ou desligada, como a minha? Um meio termo, é claro, mas isso ainda vou ter que descobrir! (ainda não tive a filha, mas o nome já está escolhido há algum tempo, e sabe qual é? Cecília! :))
Boa sorte pra você. Espero que encontre seu equilíbrio, não só no peso, mas na forma como se vê! Beijo

Ci disse...

Linda Danielle, adorei a sua história! Tomara que a sua filha seja fofa que nem você!!